QUAL A IMPRENSA QUE A BAHIA MERECE?
Por Fabricio KC
Jornal A Tarde suprime coluna de Caetano Veloso, com críticas à construção do porto Sul, em Ilhéus, e demite jornalista que denuncia crimes ambientais no setor da construção civil.
Não sei se nós, baianos, sabemos o que merecemos, mas, ao menos, já podemos saber que imprensa nós temos. Em tempos de internet, estamos bem situados para saber em que condições se encontram nossos jornais. Precisamente num momento em que os grandes jornais deviam examinar-se a si mesmos e escolher o que devem ser na nova conjuntura informacional, o Jornal A Tarde nos oferece mais um episódio vergonhoso.
O A Tarde demitiu ontem, dia 8, o repórter Aguirre Peixoto, autor da reportagem que denunciou crimes ambientais na construção do Centro Tecnológico do Governo do Estado (link), obra que o Governo realiza em parceria com empresas privadas. A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (SINJORBA), divulgou nota de protesto contra a demissão do repórter (link), e a equipe de redação do jornal se manifestou através de Carta Aberta (link).
Segundo informações deste blogue, no domingo (23 de janeiro), uma coluna de Caetano Veloso com críticas à construção da Ferrovia Oeste-Leste e Porto da BAMIN foi publicada apenas nos exemplares que circularam em Salvador. A mesma edição distribuída no Sul da Bahia trouxe outra matéria no lugar da coluna.
Ora, a dinâmica da imprensa consiste em transformar fatos em notícia. Escolher o que é notícia é um imenso poder, e além de selecionar, a imprensa também distorce, insinua, manipula, oculta, erra e às vezes mente descaradamente. Como todo poder que carece de mecanismos de controle, acaba por incorrer em abusos. Aliás, uma das funções políticas mais importantes dos meios de comunicação é equilibrar os possíveis excessos do poder democrático, ao tempo que a função do jornalista é de mediador entre a realidade e a sociedade. Quando veículos de imprensa, que são também empresas privadas, se misturam com políticos quando deveriam fiscalizá-los, ou então se deixam dirigir pela ânsia de dinheiro, tais veículos passam a atuar como meros porta-vozes de grupos e facções.
O conceito que o Jornal A Tarde faz de informação pode ser melhor: a sua “verdade” jornalística soa gananciosa. A atualidade é exigente. Estamos começando a conhecer uma nova política e uma nova economia, propiciadas por novas mídias – não sabemos o que elas nos trarão, mas é melhor essa incerteza do que a depreciação clara da função do jornalismo.
Tenhamos, entretanto, a confiança – e a internet nos estimula a isso – de que a informação crítica e a responsabilidade jornalística são possíveis. Se o jornal A Tarde sacrificou nesses episódios sua orgulhosa objetividade, então é tempo de indignação – e somente a esse preço contribuiremos para uma imprensa clara e respeitável.
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