
(Edison  Tsung Chi Hsueh, após ralar muito de estudar, passou no vestibular de  medicina mais concorrido do país, mas foi morto em trote na USP em 1999)
Bruno  é um estudante aplicado. Adora os animais e estuda diligentemente para  se tornar um veterinário para poder ajuda-los. Vai prestar medicina  veterinária. Após o resultado do vestibular, o alívio: ele entrou para a  faculdade! Em alguns anos, se tornará o médico dos bichos! Mas durante  os trotes que seus futuros colegas de profissão aplicam nele, ele entra  em coma alcoólico por ter sido obrigado a ingerir bebidas. Decide  abandonar a faculdade e dispara: “(...) fizeram a gente (calouros)  entrar em uma lona na qual tinha excremento de animais e aves em  decomposição. Pensei: se isso representa a medicina veterinária, perdi a  vontade."
Todo ano, a vergonha se repete. Estudantes  veteranos aplicam trotes nos novatos. Humilham. Agridem. Violam a  liberdade. Cometem crimes sob a desculpa do “ah, é apenas um ritual pelo  qual todos passam”. E parece que muitos aceitam. E para quê, afinal?  Para nada, eu respondo.
Muitos dizem que é  para “recepcionar”, para fazer amizade, para integração. Convenhamos,  nunca vi uma amizade de verdade começar após alguém obrigar o outro a  rolar em estrume ou raspar a cabeça. A inviolabilidade das pessoas é  assegurada por lei. “Não me toque”, eu digo, e você deve respeitar sob  pena de ser punido legalmente. Ninguém que entra na faculdade, aliás, é  obrigado a fazer amigos. Alguém me perguntou se eu quero me “enturmar”?  Desde quando fazer amigos virou obrigação? Pior, desde quando o  nascimento da amizade foi desvirtuado a ponto de começar não com um  gesto nobre e educado, mas com sofrimento e dor?
Alegar que o  trote é “tradição”, sempre foi feito e por isso é “permitido” não  convence. É o argumento dos tolos que só são capazes de repetir o que  ouvem, sem refletir ou ponderar se tem sentido ou não o que matracam. A  desculpa da tradição é uma tentativa covarde de legitimar atitudes que  não se sustentam em seus argumentos. Humilhar outrem apenas porque ele  irá entrar na sua faculdade (não é nem na sua turma ou classe!) não faz  sentido. Nem mesmo o trote solidário se sustenta. A obrigação do aluno  que entrou numa faculdade é manter frequência e notas dentro do que foi  estipulado pela instituição até a obtenção do diploma. Fim.
O  trote violento mostra a natureza doentia de pessoas que não poderiam  exercer o que almejam. Como um futuro veterinário pode maltratar um ser  vivo? Como um futuro médico pode sequer pensar em fazer algum tipo de  mal a outro ser humano? Usarão a desculpa de brincadeira? Corrijam-me se  estiver errado, mas... brincadeiras não são aquelas coisas que as  pessoas fazem por vontade própria para se divertir? Qual a diversão de  obrigar alguém a pedir dinheiro no semáforo ou chupar uma linguiça com  leite em público como se fosse sexo oral? Se para estas pessoas humilhar  os outros é uma brincadeira, teremos médicos, veterinários e outros  profissionais temerosos!
Como confiar sua saúde a alguém que, um  dia, enfiou álcool goela abaixo de um inocente até o coma alcoólico? Ou  confiar em pessoas que lançaram ácido corrosivo (de brincadeira, claro,  sempre de brincadeira) em pessoas inocentes? Este tipo de gente merece  ir para a cadeia, não para o mercado de trabalho. E este aqui não é um  discurso moralista. É uma dissertação sobre os direitos mais  fundamentais de um ser humano, como a saúde e o bem estar. E ninguém tem  o direito de violar o espaço do outro para diversão própria.
Como  resolver a questão dos trotes? Com respeito. Os calouros que quiserem  participar sabendo o que virá, ótimo. Temos aí uma festa. Contudo,  quando for necessária coerção dos novatos, aí temos um crime. E todo  crime deve ser punido exemplarmente. Trote não é brincadeira: é  barbárie.
|   Estudante é queimada com ácido na Unifeb |   O estudante Bruno César Ferreira, de 21 anos, entrou em coma alcoólico após ser forçado a ingerir bebidas. "Para lá (faculdade Anhanguera, em Leme) eu não volto. Eles estão educando vândalos, não futuros profissionais", afirmou. | 
|   Os estudantes de agronomia da UnB tiveram de procurar sabonetes em uma piscina de lama durante trote. |   Alunos queimados por ácido jogado por veteranos da Unifeb. | 
|   Estudantes da Faculdade de Agronomia e Veterinária da UnB forçam calouras a simular sexo oral com uma linguiça. |   Na UnB, uma caloura, menor de idade, teve que ser socorrida pelos bombeiros completamente alcoolizada. Teve ainda confusão e pancadaria entre calouros e veteranos. http://www.umavisaodomundo.com/2011/02/trote-universitario-precisa-acabar.html | 
 
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