Perigosos, baratos e sem fiscalização

Braços musculosos, pernas torneadas, barriga definida. A busca pelo corpo perfeito em um curto espaço de tempo leva muita gente a apelar para um caminho perigoso: o uso de esteroides anabolizantes, que possibilitam o ganho de massa muscular rapidamente.

A estudante Camila Cunha [nome fictício], 30 anos, experimentou o uso do medicamento porque queria engordar cinco quilos. Durante um mês ela usou alguns comprimidos para aumentar a massa muscular. “Fiquei com a perna grossa e braços e panturrilha definidos, mas também malhei ao mesmo tempo”, conta.

O que costuma atrair as pessoas para o uso do anabolizante é a rapidez dos resultados. “Ganhei o que eu precisava em cerca de quinze dias. Gostei do resultado e fiquei só mantendo”, afirma a estudante. Marcos Almeida [nome fictício], 22 anos, também procurou os medicamentos, com o objetivo de deixar os músculos definidos. “Usei o Estrol, que é injetável. Você aplica e malha para ganhar massa muscular. Os resultados aparecem depois de um mês. Sem isso demora mais de um ano”, conta.

O preço dos medicamentos e a acessibilidade através do “mercado negro” também podem facilitar a disseminação do uso indiscriminado. Marcos conseguiu o esteroide em uma academia, através de indicações. “A aplicação custou R$15. Na academia tem muito, um indica pro outro”, diz.

Apesar de já terem tomado o medicamento, tanto Camila quanto Marcos afirmam que não querem mais utilizar os produtos. “Eu não senti nenhum efeito colateral, mas parei porque quando mais você toma, mais dá vontade de tomar”, revela Marcos. “Isso me ajudou a ‘criar’ corpo rápido, mas eu não aconselho ninguém a tomar porque vicia”, diz Camila.

RISCOS

“Os esteroides anabolizantes são imitações dos hormônios do nosso corpo. O hormônio mais sintetizado é a testosterona, que tem efeitos anabólicos”, explica Evitom de Souza, professor de educação física e coordenador do laboratório de pesquisa Exercício Resistido e Saúde, da Universidade do Estado do Pará (Uepa).

O anseio para conquistar os resultados desejados faz até mesmo que os usuários ignorem os perigos que o uso indiscriminado dessas substâncias pode acarretar ao organismo. “Só um médico pode avaliar a quantidade de anabolizantes que, utilizados dentro dos limites, trazem benefícios e poucos efeitos colaterais”, afirma.

Mas, é válido lembrar que o médico só receita o uso dos anabolizantes para fins determinados, como pacientes portadores de doenças neurológicas que afetam os músculos. O uso do medicamento em doses elevadas traz muitos efeitos colaterais. “A pressão sanguínea fica elevada, há o aumento dos níveis de colesterol e o aparecimento de acnes, principalmente em adolescentes”, exemplifica o professor.

O acesso de modo legal a esses medicamentos só é possível através de receita médica. “Mas, nós sabemos que também são vendidos em academias. Sou contra o uso para questões estéticas. Dependendo do caso, como distúrbios de magreza, pode ser usado, mas só se for bem acompanhado por um médico”, diz.

Lei regulamenta uso, mas a fiscalização não existe

Ana Telma Farias, farmacêutica da Divisão de Drogas e Medicamentos do Departamento de Vigilância Sanitária de Belém (Devisa), explica que os anabolizantes estão sujeitos à lei 9965/00, que restringe a venda do produto apenas com apresentação e retenção da receita médica, exceto os de uso tópico (cremes).

Além disso, a receita precisa conter algumas informações para que o medicamento seja vendido. “É preciso constar o nome do médico, CRM, CPF, endereço, telefone, o nome e o endereço do paciente. É preciso também que esteja a informação para qual tratamento está sendo utilizado”. A receita fica retida na farmácia pelo prazo de cinco anos.

Segundo a farmacêutica, não há uma fiscalização específica quanto à venda dos anabolizantes. “Não é direcionada, mas durante as ações fazemos a apreensão do produto se não tiver a licença para comercialização. Também atuamos quando recebemos denúncias”.

Para campeões, resultados sem esteroides são muito melhores

Segundo profissionais da educação física e atletas, o único caminho para conseguir o corpo dos sonhos sem colocar a saúde em risco é através de determinação e disciplina. “O culto ao corpo traz muitas vantagens, o exercício físico te educa e tem um índice de lesões bem pequeno próximo a outros esportes, como futebol, por exemplo”, afirma a fisioterapeuta e professora de educação física, Carmen Bastos.

A professora enumera algumas das vantagens que os exercícios trazem ao praticante. “Previne a obesidade, eleva a autoestima, melhora o condicionamento físico. A pessoa precisa unir orientação, alimentação, treino e repouso, pois quem comanda o corpo é a mente”, diz.

Simei Pimentel, 27 anos, é a atual campeã paraense de fisiculturismo (esporte que busca, através da musculação, a melhor formação muscular). Para esculpir seu corpo – sem nunca ter usado esteroides anabolizantes -ela treina há oito anos e conta que levou oito meses para ver os primeiros resultados aparecerem. “Foi quando comecei a sentir a diferença, mas logo no primeiro mês você já sente a disposição melhorar e o corpo começa a ficar legal. Não precisa apelar pra isso [anabolizantes]”.

Rildo Souza, 44 anos, também é fisiculturista e levou oito anos para ver os resultados que esperava em seu corpo. “É preciso ter força de vontade e procurar um profissional que possa direcionar o treinamento. Não pode recorrer aos esteroides que trazem várias consequências”.

 Diário do Pará