Marina Reidel foi vítima de homofobia antes de passar por 'transformação'. 
Ela aprova kit do MEC e diz que ganhou o respeito de pais e estudantes.
 Marina Reidel é transexual e dá aulas em uma
Marina Reidel é transexual e dá aulas em umaescola pública de Porto Alegre (Foto: Arquivo
pessoal)
  Os estudantes adolescentes sabem lidar com tranquilidade quando lhes é  apresentado em sala de aula o tema da diversidade sexual. É a conclusão  que chegou  a professora Marina Reidel por sua experiência didática em  uma escola pública de Porto Alegre. Ela se sente muito à vontade para  falar sobre o tema que gerou a polêmica suspensão do projeto "Escola sem  homofobia", que iria debater a diversidade sexual nas escolas públicas  por meio de vídeos e uma cartilha – o chamado" kit anti-homofobia".  Marina é transexual desde os 30 anos (ela não revela a idade) e é  tratada com respeito por alunos, pais e diretores por seu trabalho em  sala de aula.
  De família com ascendência alemã, Marina sempre teve o carinho dos  pais, que viam o filho brincando com bonecas desde pequeno. Mas nunca  teve diálogo necessário para falar sobre sua orientação sexual em casa.  Talvez por isso tenha demorado tanto tempo para assumir a sua condição.
  No trabalho nas escolas viveu duas realidades distintas. Antes de  decidir se tornar transexual, deixando o cabelo crescer e assumindo a  sua feminilidade, Marina era o professor Mário e, como homossexual, era  vítima de preconceito nas escolas.
  “Enquanto eu era um gay não assumido tive alguns problemas”, conta a  professora, que faz mestrado em educação pela Universidade Federal do  Rio Grande do Sul. “Teve um pai que não aceitava que eu desse aula para a  filha dele. Uma mãe retirou a filha da escola porque não aceitou o fato  de ela ter um professor homossexual. Eu até fui ofendido por um aluno  da oitava série. Registrei boletim de ocorrência e ele acabou saindo da  escola.”
  Depois que se tornou transexual, as coisas mudaram. Mario avisou a  direção da escola que iria se ausentar por alguns meses e voltaria  diferente. A diretora e os outros professores prepararam os alunos para  receber esta mudança. E a transexual voltou à escola como uma respeitada  professora Marina. “Depois que me transformei ninguém questionou nada  sobre minha história ou meu trabalho. Nem os meus alunos, que têm de 10 a  17 anos. E os pais confiam na escola e no trabalho que a gente faz.”
  Marina participou de trabalhos de capacitação promovidos pelo MEC sobre  a questão da diversidade sexual nas escolas. Teve acesso aos vídeos  preparados para o kit anti-homofobia e até promoveu com os alunos  trabalhos abordando o tema. “Tivemos trabalhos excelentes sobre a  conscientização desta temática”, avalia.
  Ela lidera uma associação de professores transexuais do país. Diz que  tem 15 professores transexuais nas escolas da rede pública, sendo quatro  no Rio Grande do Sul. “Deve haver mais, mas nem todo mundo assume sua  condição”, diz. Ao saber da suspensão da distribuição do material  didático voltado para a orientação do professor, Marina achou um  retrocesso. Ela diz que muitos professores querem abordar a temática,  mas não têm material didático para se basear. E outros professores não  querem se envolver com o tema por “preguiça”. “Eles se preocupam só com  seus conteúdos enquanto na sala de aula temos violência, bullying,  homofobia, drogas...”
   Sobre a proibição do kit preparado a pedido do MEC, Marina disse que a  interferência dos políticos está atrapalhando o desenvolvimento de uma  questão importante para a educação brasileira. “Acho muito estranho é  que na educação todo mundo dá palpite. No posto de saúde ninguém diz  para o médico o que deve ser feito. Por que nós educadores temos que dar  ouvidos às pessoas que não entendem de educação e querem dar pitacos no  nosso trabalho? Por que os deputados evangélicos podem se meter tanto  se o estado é laico?”
G1 
 
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